MP descarta acordo com Bruno Henrique; outro participante confessa esquema
O Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) descartou colocar à mesa um acordo para Bruno Henrique. A escolha foi ir a fundo na investigação sobre apostas, culminando com a denúncia contra o jogador do Flamengo por estelionato e fraude a evento esportivo.
Na visão da promotoria, o acordo não poderia acontecer porque atacante fez outro acordo antes. Na Justiça do Rio, ele negociou para não ser julgado por uso de documento falso (uma carteira de motorista), em 2020. O processo foi extinto em 2022.
Outro que não recebeu oferta de acordo foi Wander Nunes Pinto Junior, o Juninho, irmão do atacante. Foi ele quem conversou com Bruno Henrique sobre forçar cartão contra o Santos, no Brasileirão 2023. E, segundo as investigações, espalhou a informação para outros apostadores.
O MP achou um participante do esquema que confessou a culpa, fez acordo e vai colaborar com a investigação sobre apostas. Trata-se de Douglas Ribeiro Pina Barcelos.
Douglas é amigo de Claudinei Mosquete Bassan e de Max Evangelista Amorim, dois dos nove que foram denunciados.
A investigação apontou uma aposta suspeita na conta de Douglas. Ele jogou R$ 350 no cartão amarelo de Bruno Henrique para ter R$ 1050 de retorno.
O MP fez a mesma oferta a outros sete investigados. Todos eles recusaram o acordo.
Douglas concordou com as condições para que o pacto fosse adiante, confessando os fatos que lhes foram atribuídos durante audiência extrajudicial e fazendo jus ao benefício. Trecho da denúncia do MPDF
Jogador serve como exemplo
Com Bruno Henrique, o MP ressaltou que nem sequer cogitou qualquer caminho alternativo para abrandar a situação. Além da questão jurídica, há um ponto de imagem pública do caso como um todo.
A peça de acusação menciona que o atacante "é atleta de expressão nacional, jogador do clube de futebol de maior torcida do país". Os promotores acrescentaram que ele é "tido como modelo de profissional bem-sucedido por torcedores, incluindo enorme contingente de crianças".
Por isso, o MP entendeu que qualquer sinal que "soe como benevolente" pode servir como "convite para prática de jogos de azar" ou estímulos a "golpes contra as casas de apostas".
"Se o ídolo investiu neste nicho delitivo e pôde colher uma resposta branda do Poder Judiciário, a expectativa daqueles que neles se inspiraram será a mesma e, daí, se tendenciará a formatar uma cultura de naturalização de fraudes esportivas e estelionatos", diz outro trecho da denúncia que explica por que Bruno Henrique não recebeu oferta de acordo.
O MP entendeu que Bruno Henrique poderia se tornar uma "inspiração" para quem cogita cometer crimes no mundo das apostas esportivas.
O jogador já foi garoto-propaganda de uma casa de apostas em 2023. Por outro lado, nas palavras do MP, "premeditou e cometeu a fraude" trazida na denúncia: combinou com o irmão que levaria cartão amarelo contra o Santos, no Brasileirão 2023, para favorecer apostas.
Por isso tudo é que o MP também pediu que Bruno Henrique seja condenado a uma indenização de R$ 2 milhões para "reparação de danos morais coletivos" pelo caso.
Por que Bruno Henrique continua jogando
Apesar de denunciado pelo MP, Bruno Henrique ainda não está impedido de jogar. Isso só vai acontecer se o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) determinar.
Um inquérito no tribunal já foi concluído. Agora, a procuradoria analisa o material para decidir se vai denunciar o jogador.
Na Justiça comum, a denúncia precisa ser aceita pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) para que Bruno Henrique formalmente se torne réu.
Ontem, Bruno Henrique embarcou com o Flamengo para a disputa do Mundial de Clubes, nos Estados Unidos.